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AS MULHERES E A LÍNGUA PORTUGUESA

Estava meio macambúzio. Na verdade bastante triste. Perdemos  nosso presidente da Associação dos Escritores, o querido Ernani Garcia dos Santos. Economista e grande craque da Língua Portuguesa.

Explico à Tia Idalina que Ernani Garcia foi autor do festejado livro Português sem Mistério. Idalina concorda que podemos desvendar os mistérios da língua e falar e escrever com clareza e competência. Só que para os homens é um pouco mais fácil.  Como assim? Perguntei.

Idalina lembrou-se de que quando menina, disse obrigado para sua professora. No que ela de pronto, ensinou-lhe:

– Meninas dizem obrigada, agradecida, grata.

Idalina questionou-a de que ouvia a maioria dizer obrigado. Tanto os meninos quanto as meninas. A professora disse-lhe que muitas meninas ficam moças, velhas e morrem agradecendo de forma errada. Não seriam suas alunas. Foi então que Idalina escorregou novamente na concordância:

– Estou meia confusa. E a professora de imediato corrigiu. Meio confusa. Enquanto advérbio, a palavra meio é invariável: meio cansado; meio cansada; meio assustado; meio assustada. Enquanto numeral fracionário e adjetivo, a palavra meio aceita flexão em gênero e número: meio copo; meia garrafa; meio limão; meia manga.

Idalina disse jamais ter esquecido  a lição. E continua:

– Outro dia quando  me sentia meio cansada e meio  velha, Tina procurava uma meia velha para fazer de touca. Entendi logo que não estava a minha procura!

Titia  concluiu muito cedo que a vida para os homens é bem mais fácil. Até mesmo a língua, normatizada por gramáticos homens, é machista. E continuou:

Passou-se o governo inteiro de Dilma Roussef com o país dividido gramaticalmente entre concordar com o uso da palavra presidenta ou não.  O professor Pasquale Cipro Neto ensina que “a terminação “­nte”, que vem do particípio presente latino, forma em português adjetivos e substantivos”. Ressalta que 99% desses termos não têm variação. “O que varia é o artigo ou outro determinante como o/a estudante, nosso/nossa comandante. Mas é claro que há exceções”, completou. Uma delas é justamente “presidenta”, registrada há mais de um século. Segundo o professor, na sua edição de 1913, o dicionário de Cândido de Figueiredo registra “presidenta”. A última edição de cada um dos nossos mais importantes dicionários e a do “Vocabulário Ortográfico” também registram. Como existem as duas formas trata-se de uma questão de escolha. A ministra Carmem Lúcia preferiu ser chamada de presidente do STF. Uma escolha pessoal.

Mas o Brasil patriarcal, conservador e machista não acatou o desejo da presidenta Dilma. O fato é que o Português é mais difícil e misterioso para as mulheres do que para os homens.

Da Redação:

Pedro Lucas Lindoso para o Portal Voz Amazônica e para a Rádio Cultural da Amazônia

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