Vá em paz, meu irmão, como em paz nos deixa, com a consciência sublime de que a sua trajetória é tão solidificada como quanto à de um homem totalmente do bem, e que ventania nenhuma será capaz de remover da história, porque – como bem vociferou Máximus Décimus Meridius – o que fazemos na vida ecoa na eternidade. Omar Maia dos Santos vai, mas fica! Deus conosco!
Manaus (AM) – Quando recebi a lúgubre notícia de falecimento do Comendador Omar Maia dos Santos, eu cozinhava o jantar ouvindo a jamais obsoleta canção “My Hometown”, do Bruce Springsteen. A música não parou, mas o fogão foi desligado, porque eu fui abatido imediatamente pela perplexidade e pelo desgosto que chegaram montados na proa dum batel repleto de tristeza. A comida perdeu o sentido naquele fatídico instante, mas a canção não parou. E a propósito, ela declama a lírica mensagem da ‘volta para casa’, para a terra natal. E eu continuo a ouvir a canção agora, enquanto escrevo essas palavras de memorialização àquele amigo-irmão que vai, mas que fica! Omar Maia, já saudoso, leva consigo e com o seu espírito, para a ‘sua casa’, que é a mesma Casa do Pai, a chancela da glória amazônica, e deixa conosco insofismáveis sinais – por todos os cantos – de triunfo e de amor em vida.

Jamais entenderemos de modo suficiente o sentido intrínseco da morte, e nem parece prudente se atrever a isso, mas a Psicanálise procura esboçá-la – sem exaurir o seu papel – como um acontecimento biologicamente imposto a nós, inevitável, portanto, mas que não representa em si simplesmente um momento final da nossa existência, mas uma experiência diária, como um fato agregado ao ser, como uma insígnia do destino. Eu diria – se parece difícil compreender isso – que todo dia temos notícias da morte, mas a vida vence sim, porque dura mais que ela, uma vez que, como já dito, o espírito vai, mas a memória fica entre os entes, os amigos, a história.

Se Camus fosse protestar contra a finitude da vida, diria que é um absurdo existir para deixar de existir, mas ao mesmo tempo ensinaria que o existir e a finitude têm a função de cravar o nome do homem na história, para que ela dê lugar ao corpo mortal. O meu amigo Comendador e Confrade Omar Maia dos Santos fincou o seu brioso nome na história que jamais morre. Ora como um pai, que nem tinha régua para medir esforços de amor pelos filhos, ora como esposo que cercava a sua consorte, Dra. Rosana Santos, de amores e de respeito indubitáveis e inspiradores, ora como um parceiro de afazeres multiculturais, Omar era indesistível, generoso, honrado e respeitoso.

Como membro distinto de inúmeras agremiações e silogeus que se designam pelo trabalho incansável de transformação dos contextos sócio-culturais amazônicos, Omar Maia pertencerá para sempre – mesmo depois da sua ‘volta para casa’ – às cadeiras ‘pós-vitalícias’ da Câmara Brasileira de Cultura (CBC), donde vem a sua meritosa epígrafe de Comendador, sobremodo pelo seu inequívoco sacerdócio enquanto Presidente da Associação de Pais e Amigos do Down no Amazonas (APADAM), como também é (no sentido presente – e no futuro) membro titular da Academia de Letras, Ciências e Culturas da Amazônia (ALCAMA) e da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-Amazônicos (ABEPPA), entidades que jamais deixarão morrer a sua cristalina memória de homem sereno, cuja placidez e sorriso aprisionavam os nossos corações.

O absolutamente singular Deus que criou tudo o que se vê e todas as ‘coisas’ que não se enxergam, e quaisquer sensações abstratas à nossa volta, é o mesmo que o abraçou ontem, dia 27 de novembro de 2024. A ‘partida para casa’, também conhecida como o “regresso normativo”, imposto, incondicional, inegociável, é uma espécie de ‘regra’, e, como tal, marcará com a tinta nostálgica de uma saudade inevitável a ausência do Comendador no primeiro Natal de sua linda e queridíssima esposa, dos seus filhos-tesouros (de um modo muitíssimo especial da princesa Stephanie Santos), e também dos seus amigos e pares. Nós, todos nós, acreditamos (e até mesmo os que não creem) que esse Deus Uno (e Trino), acolhedor, consolador e cuidador, providenciará para que as nossas lágrimas sejam cada vez menos pesarosas, e muito mais memoriais, decrescendo as tristezas e acrescendo alegrias em forma de boas lembranças do nosso irmão Omar.

A canção continua tocando… São louvações maviosas de “My Hometown”, eu consigo ouvir aqui… E nesse diapasão, invocando o brado exclamativo dos antigos Incas, peço ao Eterno que promova uma boa jornada a você, meu amigo inesquecível, Comendador Omar Maia dos Santos, o espírito que voltou para casa, e que agora descansa nos Seus abraços de Vida Eterna. Vá em paz, meu irmão, como em paz o teu espírito nos deixa com a consciência sublime de que a tua trajetória é tão solidificada como quanto à de um homem totalmente do bem, e que ventania nenhuma será capaz de remover da história, porque – como bem vociferou Máximus Décimus Meridius – o que fazemos na vida ecoa na eternidade. Omar Maia dos Santos vai, mas fica! Deus conosco!
Vídeo: Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (SEJUSC) | Roteiro e direção: Rafael Seixas | Cinegrafistas: Raine Luiz e Denise Pego | Edição: Raine Luiz e Andreia Guimarães.
Da Redação: Paulo Queiroz para o Portal Voz Amazônica e para a Rádio TV Cultural da Amazônia.
Respostas de 2
Não tem como escrever nada depois de um texto tão ímpar que somente você teria a grandeza, e a imponência da simplicidade, para literalmente imortaliza-lo. A ausência vai ser perpétua, mas a saudade vai ser boa, cheia de boas risadas!
Afinal o Comendador paizão da CBC – AMAZONAS! Foi imortal em vida, imagine agora na espiritualidade?
Parabéns!