RITO
Eu que já viajei tantas águas,
que conheço os segredos
do rio profundo, o canto da Iara,
os mistérios e encantamentos
do Boto sedutor e da Boitatá,
a cordialidade do Tucuxi,
o arrepio do canto da mata…
Sou incapaz de conhecer
teu dissimulado riso
de louca Mona Lisa!
Eu que miguei tabaco
meloso e melado pro Matinta,
tomei cachaça e proseei,
no toco do pau, com o Curupira,
descobri o enigma do Acauã,
pássaro agourento,
a boca da noite escondida
no caroço de tucumã,
o gosto do café oferecido
pelas mãos da simpática
Anciã da cacimba…
Ignoro teus desejos!
Perco-me na superficialidade
do teu dissimulado olhar!
Por que te escondes
e te camuflas em meus beijos?
Ainda invadirei teus anseios
e visitarei teu limbo,
matarei teu cão de guarda,
e com sangue pactuarei
com tua alma de cunhã
e descobrirei teus mais
íntimos segredos muiraquitãs…
Confira também a versão musicada de “Rito”, na interpretação da Banda New Star
https://www.youtube.com/watch?v=Kol-ZWlC0oM
Da Redação: Marta Cortezão para o Portal Voz Amazônica e para a Rádio Cultural da Amazônia.

Amazonense radicada em Segovia, na Espanha, desde 2012, é escritora, poeta, ativista cultural, professora, tradutora, gestora de lives, articuladora do Mulherio das Letras Espanha, colunista da Revista Ser MulherArte (Tertúlias Virtuais). Mantém o blog https://feminarioconexoes.blogspot.com. É membro da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-Amazônicos – ABEPPA e da Academia de Letras do Brasil – Amazonas – ALB/AM. Participou de diversas antologias/revistas nacionais e internacionais. É autora dos livros de poesia “Banzeiro manso” e “Amazonidades Poéticas – Cultura e Identidade” (no prelo).
Parabéns! Minha querida poetisa! Como sempre arrasando! Sucesosss mil!
Uma sutileza ao citar com propriedade essa visão entre a vida da vida, com a vida do rio e dos misterios folcloricos da crença que rege nossas tradições.
Querida Cida Ajala, obrigada pelas suas palavras de carinho. Com afeto, Marta.
Carlos Silva, obrigada. É motivo de orgulho carregar nas entranhas este arsenal mitológico amazônico! Nos faz tão bem, não é, querido?! Saudações poéticas.