SÁBADO DE ALELUIA. HOUVE BRIGAS E TIROS.
Sábado de Aleluia. Ligo para meu amigo Chaguinhas. Estava em seu sítio. Todo ano Chaguinhas passa a Semana Santa em sua pequena propriedade na região de Rio Preto da Eva. E obriga-se a uma vigília. Não necessariamente a vigília Pascal. Mas a inusitada vigilância de seu galinheiro, para evitar os tradicionais furtos de galinhas na Semana Santa.
Roubar galinhas, na madrugada da Sexta-Feira Santa para o Sábado de Aleluia é um costume antigo. Uma prática ainda frequente em algumas cidades brasileiras. Aqui em Manaus e em muitas cidades tem sido raro dada a inexistência de criações devido a urbanização. Diferente de outros tempos em que era comum criar animais na área urbana. Mas ainda acontece. No interior o costume é mais presente. Que o diga Chaguinhas.
Segundo o jovem historiador Fábio Augusto de Carvalho Pedrosa, a explicação para esse antigo costume se deve à crença de que Jesus, estando morto, ressuscitaria só no Domingo de Páscoa. Deus não poderia ver os pecados dos ladrões de galinhas. Assim, seus “crimes” podem ser praticados sem medo ou culpa.
Outra tradição – essa mais recorrente – é a malhação de Judas, também no Sábado de Aleluia. Enforca-se um boneco em um poste, normalmente do tamanho de um homem. Usa-se serragem, trapos ou jornal na confecção. Depois o boneco é estraçalhado e até mesmo queimado. No Brasil é comum enfeitar o boneco com máscaras ou placas com o nome de políticos, ou qualquer personalidade não tão bem aceita pelo povo. A vítima pode ser também um vizinho malquisto. Meu pai proibia essa prática, por considera-la ofensiva.
Talvez a brincadeira mais antipática praticada na Semana Santa é o “serra velha” ou velho. A vítima idosa recebe a visita dos brincalhões que se postam diante da casa da velha ou velho. Começam serrando uma tábua ou lata. Os demais acompanham o ronco e o ruído da serra em gritos, lamentos e prantos. “Serra a velha (ou o velho)”, gritam todos. Ninguém gosta da brincadeira. É mau agouro. Reza a lenda que velho serrado não chega à quaresma seguinte.
O fato é que gente que cria galinha como Chaguinhas, político, ou celebridade malquista e velho rabugento, sofre com os perrengues durante a Semana Santa. Chaguinhas me relata que com o país polarizado em disputas ideológicas, as brincadeiras provocaram brigas e até tiros país afora. Mesmo plena pandemia!
Da Redação:
Pedro Lucas Lindoso para o Portal Voz Amazônica e para a Rádio Cultural da Amazônia
Advogado, escritor e cronista. Membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-Amazônicos (ABEPPA) e da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas (ALCEAR).