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Suplente ‘natural’ de Flordelis já é deputado federal. Agora, Eliseu Kessler é quem amola o terçado à espera da cassação

O “Romeiro e a Flor”, dois aromas que não convém cheirar. Pedro Augusto, ex-suplente, é conhecido como o “Romeiro de Aparecida”. Ele é ex-deputado estadual por 5 mandatos consecutivos, e é investigado em uma operação do MP/RJ com a Polícia Civil que apura a prática das “rachadinhas” na ALERJ.

Brasília – O ávido ex-deputado estadual Pedro Augusto (PSD), do Rio de Janeiro, não precisou nem esperar mais a cassação do mandato da deputada federal e pastora Flordelis (PSD) para assumir uma vaga na Câmara dos Deputados. Ele ocupa agora o lugar de Alexandre Serfiotis, que se elegeu prefeito de Porto Real (RJ) e já está lá ‘transformando’ a cidade.

Pedro Augusto é cantor religioso e radialista em um programa popular na rádio Tupi, e é conhecido pelo povo católico como o “Romeiro de Aparecida”, por ser o promotor de grandes caravanas até o santuário de Nossa Senhora Aparecida. Sua programação mistura religião, notícias policiais e política. No ano passado ele foi alvo de uma operação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro com a Polícia Civil, que investigam as “rachadinhas” na Assembleia Legislativa. E pasmem: dos 70 deputados estaduais daquela Casa e Leis, 42 deles são investigados nesse e em outros crimes.

Novo suplente

A deputada Flordelis foi afastada hoje (23/02) de suas funções parlamentares por decisão unânime dos desembargadores da Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Entre tantas motivações, o Judiciário entendeu que a mais preponderante delas é que Flordelis estaria, com poderosos indícios, usando o poder mandatário para obter benesses e se fortalecer no processo de homicídio que pesa em sua vida. E que peso!… O relógio do tempo é mesmo cruel, e, de subitâneo, não-raro, quem é ‘freguês’ da doçura do sono, passa a ser escravo da insônia, por conduta vedada em lei.

Ex-vereador Eliseu Kessler, ‘suplente-herdeiro’ imediato de Flordelis, sendo ungido no púlpito – Foto: Divulgação/PVA.

O ‘suplente-herdeiro’, por assim dizer, de Flordelis é Eliseu Kessler, que é ex-vereador de dois mandatos no Rio, derrotado nas urnas no último Pleito, mas ficou como 1º suplente do PSD naquela Câmara Municipal. O suplente em questão é um sujeito cheio de predicados, mas não está muito animado com a suplência no Rio, pois lá parece que não há nenhuma ‘extinção de alma’ à vista para que ele assuma um mandato. E com a afortunada assunção de Pedro Augusto, “O Romeiro”, na Câmara dos Deputados, Kessler herda a provável vaga, e desde então está mesmo é ‘amolando o terçado’ para a ‘degola’ do mandato de Flordelis, o que não parece mais muito longe de ocorrer.

Kessler, pelas pesquisas às quais eu me debrucei, também é uma espécie de “flor acatingada”, mesmo sendo um “homem de Deus”, que nem são Flordelis e Pedro Augusto. Pesa sobre ele acusações consideráveis de nepotismo em todas as suas modalidades existentes. Ele é dono de uma postura santificada, pois, entre tantas coisas, é, sobremodo, dedicado aos familiares. E como é! Muitos deles hoje desfrutam de vultosos salários em colocações comissionadas privilegiadas, inclusive a esposa. Ele se posiciona como severo opositor da “ideologia de gênero nas escolas”.

Marcha processual “queloniana”

O Brasil inteiro acompanha estupefato a ‘queloniana’ (no sentido de morosa) marcha com que o Conselho de Ética da Câmara Federal vem tratando o “Caso de Flordelis”, que já se arrasta há pelo menos 1 ano sem apreciações, digamos, austeras. Pelo que se sabe (e não se sabe muito a respeito) Flordelis só será julgada pelo Parlamento após a volta do Conselho de Ética, em março.

Flordelis na Tribuna da Câmara dos Deputados discursando e orando – Foto: Divulgação/PVA.

O afastamento judicial da deputada é apenas um passo (por sinal, bem curto) até que o povo brasileiro (especialmente a família do pastor Anderson do Carmo, assassinado sem piedade, segundo a polícia, a mando da pastora Flordelis) conhecer um veredicto concreto deste que é um dos casos mais hediondos da história criminal brasileira. Pois é, o Conselho de Ética da Casa Legislativa precisa inexoravelmente validar a decisão judicial de afastamento. É… O que parece uma aberração cheia de controvérsias e paradoxos, está previsto em lei. É assim que é!…

Pastora Flordelis e seu marido cruelmente assassinado. Tempos áureos de amor.  

Estamos falando em uma matéria que versa sobre algo que está além da simples indignidade. Falamos do assassinato cruel e surreal de um homem que foi metralhado, varado, cravado de balas pela barbárie que, segundo as longas e exaustivas investigações policiais, apontam para a autoria incontestável da deputada Flordelis como mandante; seus filhos como executores, que estão presos, e outros. E o processo anda, e o povo brasileiro aguarda o seu deslinde. E ela, é claro, nesse caminhar, está exercendo o seu direito sacramentado da ampla defesa e do contraditório, ambos previstos em lei.

Tribunal do Júri x tribunal do povo

Desde que sentimos que somos gente, aprendemos que “não devemos julgar a ninguém”, pois, segundo nos ensinam, “somente a Deus pertence tal prerrogativa”. Não duvidando de nada, mas desconfiando de tudo, o povo brasileiro emite todos os dias a sua opinião, em todos os cantos, mormente nas redes sociais. E ao contrário da lentidão processual que tem como ré a deputada Flordelis, o “tribunal do povo” caminha com fenomenal velocidade no ‘julgamento’ deste caso, e clama por justiça justa. O Tribunal do Júri é a esfera regulamentar constituída que promove a condenação efetiva de um criminoso. O “tribunal do povo” – que não é de exceção –, difereremente, é ‘consuetudinário’, por assim dizer, portanto, derivado do costume social, mas também julga, e isso nunca vai mudar.

Deputada Federal e pastora Flordelis em pleno fervor da oração na Mesa Diretora da Câmara Federal – Foto: Divulgação/PVA.

 

A deputada federal Flordelis, por sua vez, que também é pastora, explicitando diariamente em suas redes sociais uma serenidade espantosa, publica matérias que guardam severa desconexão com as acusações perturbadoras que repousam sobre os seus ombros sobressaltados. E causa estranheza essa ‘segurança’ que, segundo ela, está alicerçada na fé. O povo julga sim, porque se sente parte legítima do ‘poder’ global de uma nação acimentada nos princípios do estado democrático de direito.

Por outro lado, já vimos antes filmes semelhantes sobre este contexto, onde réus potenciais, conhecidos do povo, praticantes de atrocidades abaladoras, até o derradeiro minuto antes da condenação, empregavam virtuosa desfaçatez em suas aparições e manifestações públicas, porém, como esperado, seus castelos capciosos ruíram por efeito inevitável do poder legal, da persecução judicial e da celebrada fumus boni iuris, a “fumaça do bom direito”, e da condenação final.

Seja como for – e cedo ou tarde será alguma coisa nisso tudo –, a deputada federal Flordelis, afastada, arredada, licenciada, suspensa, distante, longínqua, remota, ou qualquer outra coisa que o sistema sugerir ao caso dela como “remédio paliativo”, a ré continuará recebendo o seu adiposo salário de mais de R$ 33 mil, e – melhor não duvidar – todas as demais verbas correlatas.

O que se nota como semelhanças – no mínimo curiosas – entre os atores desse impudico contexto, é que Pedro Augusto, Flordelis e Elizeu Kessler têm algo visceralmente em comum: eles estão todos juntos e misturados na fé inabalável num Deus que, segundo ponderam, “dorme no ponto”.

Da Redação:

Editorial de Paulo Queiroz Para o Portal Voz Amazônica e para a Rádio Cultural da Amazônia

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