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TAMBÉM NÃO TEM CARNAVAL

Há mais de ano, o mundo inteiro enfrenta o maior dos desafios na área da saúde humana: uma pandemia trazida por vírus desconhecido, de contaminação absolutamente incomum e que percorreu todos os recantos do planeta, provocando mortes em quantidades superiores às das guerras que o homem costuma fazer com seu estranho apego às armas e sua irracional mania de poder.

Medidas sanitárias recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, também assustada com o mundo doente, entre elas o uso de máscaras, o distanciamento social, a permanência em casa de idosos e de demais pessoas havidas como integrantes de grupos de risco, médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde atônitos em busca  de medicamentos e procedimentos clínicos hábeis ao enfrentamento da louca virose, esta sim, de verdade, cientistas presos a microscópios noite e dia e os governos adotando medidas cada vez mais restritivas do convívio social, com prejuízos incalculáveis para a economia e com o adoecimento psicológico generalizado ainda não possível de ser avaliado, em crises de ansiedade, de medo, de fobia e de outras doenças de interesse psiquiátrico.

Indústrias paradas ou com produção reduzida, comércio de portas fechadas ou com atendimento à distância, escolas sem aulas, professores ministrando ensinamentos com uso de tecnologia da comunicação social, suspensão das práticas esportivas ou realização de jogos sem qualquer torcedor no lugar, tudo isso foi fazendo com que as pessoas deixassem de se encontrar, de confraternizar, proibidos os abraços e até os apertos de mão, estes substituídos por toques de cotovelos.

Uma nova forma de vida que se convencionou chamar de novo normal, com famílias mantendo comunicação por via telefônica, com ou sem vídeo, ou através de mensagens que há muito substituíram o  velho e cansado telegrama do código Morse ou com e-mails já há tempos usados em substituição às cartas, simples ou expressas, que tanto exigiam dos carteiros nem sempre bem recebidos por fiéis cães de guarda das casas.

Aniversários não festejados, festas, inclusive de formatura ou religiosas, como o Círio de Nazaré, deixadas para oportunidades futuras, reuniões por videoconferência em todos os níveis de governo e em relações diplomáticas, visitas proibidas a doentes em hospitais, clínicas e pronto socorros, assim como a casas de acolhimento e de repouso, sessões legislativas ou de julgamentos judiciais sem o encontro físico dos atores envolvidos, com votos à distância até mesmo para deliberações de alto interesse da comunidade humana.

Um novo tempo, um mundo não imaginável até pouco mais da metade da segunda década deste novo milênio, que tentei registrar assim, restrito ao Brasil, em uma quase poesia:

TAMBÉM NÃO TEM CARNAVAL

Desde o ano que passou,

a vida da gente mudou.

Junho foi sem festival

Caprichoso e Garantido

cada um muito querido

permaneceu no curral.

Foi silêncio de toada

nenhum som na batucada,

nada da marujada,

sem torcida agitada

vibrando na arquibancada.

A ilha ficou silente

o mundo estava doente

Covid em pandemia,

todos em quarentena,

o riso saindo de cena

remédio algum servia.

Em dezembro, no Natal,

festa também não se fez

o homem apavorado

milhares de mortes por mês.

Não se teve mais abraço

beijo ficou sem espaço

o medo virou senhor

em vez de Noel, a dor.

Estamos em fevereiro

já do ano seguinte,

terminou dois mil e vinte,

também não tem carnaval

continua o mundo inteiro

tomado do mesmo mal.

Nas escolas não há samba

a avenida não tem bamba

nem bloco, nem bateria

também não tem mestre sala

baiana ou alegoria,

não há Pierrot, Colombina,

confete ou serpentina

e o rosto mascarado

é do povo que se cala

ainda muito assustado

sem nada a ver com folia.

Parece que vai melhorar,

pra gente parar de chorar,

está chegando a vacina,

e a providência divina

em orações tão pedida

será resgate da vida.

Da Redação: Lourenço Braga para o Portal Voz Amazônica e para a Rádio Cultural da Amazônia

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